sexta-feira, 12 de maio de 2023

SILERE NON POSSUM // n.º 37 // Carlos Aguiar Gomes

 

SILERE NOM POSSUM

(Não me posso calar – Santo Agostinho)

“Para destruir um povo é preciso destruir as suas raízes.” (Alexandre Soljenitsyne)

Carta aos meus amigos - n.º 37

BRAGA, 11 - MAIO - 2023

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PAX



«Como dizia São João Paulo II na sua Carta aos Artistas, que vos convido a reler com atenção, «para transmitir a mensagem que Cristo lhe confiou, a Igreja tem necessidade da arte. De facto, deve tornar percetível e até o mais fascinante possível o mundo do espírito, do invisível, de Deus». Por isso, tem de transpor para fórmulas significativas aquilo que, em si mesmo, é inefável. Ora, a arte possui uma capacidade muito própria de captar os diversos aspetos da mensagem, traduzindo-os em cores, formas, sons que estimulam a intuição de quem os vê e ouve». 
(cf. Papa Francisco “Discurso aos membros da Associação «Diaconie de la Beauté»,17.II.22)



Desculpem-me, por favor, os meus caros Amigos-leitores voltar à DIACONIA DA BELEZA como caminho do anúncio de Deus a um mundo pós-cristão e pós-humanista, “intoxicado” de erotismo (homo e hétero) que não é capaz de pensar sobre a Beleza do criado e, consequentemente, do Criador, a Beleza incriada, tão conspurcada anda a sua mente. Como pode o homem contemporâneo apreciar a Vénus de Milo, um bailado do Bolchoi, a Capela Sistina, um Anjo barroco desnudo e tantas outras obras de Arte idênticas que nos remetem, pela sua harmonia ou equilíbrio de formas para a perfeição da obra de Deus? A VIA PULCHRITUDINIS, o caminho da Beleza, remete-nos para perfeição das obras que nos encaminham para Deus e só mentes perversas e poluídas pelo erotismo pornográfico que invadiu todos os espaços físicos e mentais da contemporaneidade se atrevem a ver o que não é.

Em Braga, está a decorrer o 9º FESTIVAL INTERNACIONAL DE ÓRGÃO, um longo caminho que já, há várias edições, atingiu um nível que o catapultou a um dos maires eventos musicais organísticos da Europa. Tenho a certeza de que o Festival referido, poderia “caber” em Salzburgo, Viena, Amesterdão, Bayreuth e noutros grandes centros musicais do mais alto nível. Quando escrevo “do mais alto nível” estou a referir-me obviamente à altíssima qualidade dos intérpretes, da pluralidade de combinações vocais, instrumentais e bailado (neste festival que está quase a chegar ao seu fim).

Todos os festivais de órgão, têm tido uma curiosidade: cada edição é temática. Recordo, por exemplo, o tema “O órgão e os seus primos”. No de 2023 é mote, “o órgão e a dança”. Genial esta ideia de mostrar ao público melómano que a dança é intrínseca e audível quando o órgão “dança” com outros instrumentos, como foi o caso do Bandolim ou com crianças que exibiram os seus dotes de futuros grandes bailarinos com a candura de que só as crianças são capazes e respeito pelo lugar onde decorreram as suas magníficas exibições. Como se poderá ver outra coisa que não somente arte nestes curtos bailados da inocência que, falo por mim, me ajudaram a aproximar de Deus que dotou estas crianças do dom de nos encantar com movimentos puros, harmónicos e equilibrados do seu corpo?

Caros Amigos-leitores como se pode ser encaminhado para a oração, diálogo com Deus, quando nos impingem cançonetas “meladas”, ocas e bamboleantes ou nos obrigam a ver paramentos litúrgicos dignos, somente, de um desfile de Carnaval ou nos “oferecem” desfiles cansativos e sem sentido, por exemplo, em alguns Ofertórios “solenes”?  É este o caminho da Beleza? 

O FESTIVAL INTERNACIONAL DE ÓRGÃO de Braga é, tem de ser entendido assim, já como um verdadeiro património imaterial da humanidade. Braga sabe disso? Os bracarenses já se aperceberam deste grande evento que honra quem o organiza, apoia e o frequenta? Os putativos mecenas já se deram conta do valor acrescido que traz a Braga, a nível mundial, este evento?

Se os meus Amigos-leitores podem aceder aos programas das edições anteriores, lerem os excelentes cadernos distribuídos em cada Festival e ouvirem os CD`s que foram editados, podem constatar que o que escrevi não é um exagero!

E, para terminar esta minha Carta, os frequentadores dos diferentes concertos, já pensaram no imenso trabalho que dá organizar um Festival como este, no dinheiro que é despendido e que… as entradas são gratuitas quando para qualquer “concerto” de ruído as entradas são bem caras e têm publicidade gratuita dos grandes meios de comunicação social que ignoram este FESTIVAL INTERNACIONAL DE ÓRGÃO de Braga?

Como me posso calar quando oiço críticas desajustadas à realidade deste grande evento musical? 

A Arte tem inúmeras linguagens (cada época tem a sua linguagem) e nenhuma é, em si, perversa se não for perversa a mensagem que propõem à nossa contemplação. 

Não me posso calar!

SILERE NON POSSUM!

Carlos Aguiar Gomes (facebook.com/carlos.aguiargomes), Braga, 11 de maio de 2023.

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