Perante o ataque permanente e agressivo da Ideologia do Género e concomitante pensamento Woke na nossa sociedade e que está a contaminar todos os sectores da sociedade, atacando a Ciência e a Moral, com a conivência dos diferentes poderes que nos regem, ler e reflectir sobre a Carta Pastoral dos Bispos da Escandinávia ( Dinamarca, Suécia, Noruega, Finlândia e Islândia) sobre a sexualidade humana, é salutar e anima-nos a não nos darmos por derrotados ou considerar-nos como uns pobres retrógrados .
Assim, nesta minha Carta semanal, decidi, com a devida autorização, publicar na íntegra a Carta Pastoral que os Bispos daquela Conferência Episcopal Católica emitiram no passado V Domingo da Quaresma. Trata-se, esta precioso documento, de um bem elaborado texto e escrito com a coragem que é verdadeiramente exemplar, modelo que todos deveríamos seguir. Não há meias palavras ou verdades acinzentadas. Nesta Carta Pastoral há clareza de linguagem e frontalidade de que andamos necessitados. Todos temos de ter o pensamento bem “alimentado” para sabermos fazer frente aos ataques sistemáticos contra a Ciência e a Moral. E não termos medo de afirmar a verdade pois só esta nos liberta da opressão generalizada do erro que procura impor um “ novo homem” feito à imagem e modelado pela Ideologia do Género, uma construção da chamada “ engenharia social” tão na moda.
Creio que os meus Amigos-leitores irão apreciar o teor desta Carta Pastoral que nos chegou vinda do Norte da Europa mas que serve para todas as latitudes. Os Bispos que integram esta Conferência Episcopal tiveram a coragem de ser claros contrariando o cinzentismo, caos e meias verdades que grassam em muitos meios eclesiásticos. Devemos estar-lhes gratos por fazerem apelo às verdades da Fé, à Ciência e ao bom senso, sem deixar de, e bem, aconselharem o acolhimento, que não é aceitação do erro em que querem viver, das pessoas que, perturbadas, manipuladas e confusas, nos tentam obrigar a ler pela “sua cartilha” ideológica que, descaradamente, apaga os dados rigorosos da Ciência, nomeadamente da Biologia, mas também das regras constitutivas da nossa Gramática.
Vivemos um tempo, este que nos é dado viver, em que precisamos de coragem para contrariar o “Pensamento Único” que nos estão a impor.
A Carta Pastoral que transcrevo seguidamente vai ajudar-nos a clarificar ideias e obter argumentos para sabermos opormo-nos à tirania ideológica dominante.
…e, caros Amigos-leitores, tenhamos a coragem de não nos deixarmos levar pelas mentiras e ideias falaciosas que “navegam” nos media, nas escolas e em todos os ambientes que podem influenciar-nos!
Como nunca, precisamos de pessoas com coragem mesmo sabendo que correm o risco do martírio, da perseguição e do “ apagamento” social e cultural.
Caros Amigos-leitores, não receiem divulgar esta minha Carta que se enriqueceu com a referida Carta Pastoral da Conferência Episcopal da Escandinávia!
CONFERENTIA EPISCOPALIS SCANDIAE
CARTA PASTORAL
Sobre
a
Sexualidade Humana
V Domingo da Quaresma de 2023
Queridos irmãos e irmãs,
Os quarenta dias da Quaresma recordam os quarenta dias de jejum de Cristo no deserto. Mas tal não é toda a realidade. Na história da salvação, os períodos de quarenta dias indicam etapas na obra da obra divina da redenção que continua até aos dias de hoje. A primeira intervenção de Deus foi a que teve lugar em tempos de Noé. Antes da destruição que o homem tinha causado (Gen 6,5), o Senhor submeteu a terra a um baptismo de purificação: «choveu sobre a terra quarenta dias e quarenta noites» (Gen 7,12). O resultado foi um novo início.
Quando Noé e os seus regressaram a pôr os pés em terra num mundo completamente depurado pela água, Deus estabeleceu a sua primeira aliança com todos os seres viventes. Prometeu que nunca mais uma inundação nunca mais voltaria a destruir a terra. À humanidade pediu justiça: honrar a Deus, construir a paz, ser fecundos.
Estamos chamados a viver abençoados na terra e a encontrar alegria de uns com os outros. O nosso potencial é maravilhoso sempre que recordemos quem somos: «a imagem de Deus fez o homem» (Gen 9,6). Estamos chamados a converter em realidade esta imagem através das nossas escolhas de vida. Para ratificar esta aliança, Deus pôs um sinal no céu: «porei o meu arco no céu, como sinal da minha aliança com a terra. Aparecerá o arco nas nuvens, ao vê-lo recordarei a aliança perpétua entre Deus e todos os seres viventes, todas as criaturas que existem na terra» ( Gen 9, 13,16).
O sinal desta aliança. O arco-iris, tem sido revindicado no nosso tempo como o símbolo de um movimento político e cultural. Reconhecemos tudo o que é nobre nas aspirações deste movimento. Na medida em que falem da dignidade de todo o ser humano e o seu desejo mais profundo de ser visto pelo que é, compartilhamos essas aspirações. A Igreja condena todas as formas de discriminação injustas, incluindo as que se baseiam no género ou na orientação afectiva. Discordamos, pelo contrário, quando um movimento propõe uma visão da natureza humana separada da integridade corporal da pessoa, como se o género físico fosse acidental. E protestamos quando se força essa visão sobre as crianças apresentando-a como uma verdade comprovada e não como uma hipótese temerária e quando se a impõe aos menores como uma pesada carga de autodeterminação para que não estão preparados. Resulta apelativo que uma sociedade tão atenta ao corpo nos factos o trate com superficialidade ao não o considerar como significante da identidade. Assim, se pressupõe que a única identidade que conta é a que brota da autopercepção subjectiva, a que surge à medida que vamos construindo a nossa imagem.
Quando professamos que Deus nos criou à sua imagem não só se refere à alma: está, também, misteriosamente inscrita no corpo. Para os cristãos o corpo é uma parte intrínseca da personalidade. Cremos na ressurreição da carne. Certamente «todos seremos transformados» (1Cor 15, 53). Não podemos, pois, imaginar como serão os nossos corpos na eternidade, mas com a autoridade da Bíblia, fundada na tradição, acreditamos que a unidade do espírito, alma e corpo foi feita para perdurar e não tem fim. Na eternidade seremos reconhecíveis como quem somos agora e os conflitos que ainda impedem um pleno desenvolvimento do nosso verdadeiro ser serão resolvidos.
«Pela graça de Deus sou quem sou» (1 Cor 15,10): S. Paulo teve que lutar contra si mesmo para professar esta profissão de Fé. Com frequência, tal como sucede connosco. Estamos conscientes de tudo o que não somos: concentramo-nos nos dons que não recebemos, no afecto ou no apoio que de que carecemos. Esta situação enche-nos de tristeza. Queremos compensá-la, e ainda que por vezes seja razoável, frequentemente é inútil. O caminho para a aceitação de si próprio passa por nos confrontarmos com a realidade vivida. A Bíblia e a vida dos santos mostram-nos como as nossas feridas, por graça de Deus, podem tornar-se fonte de cura para os nós e para os outros.
A imagem de Deus na natureza humana manifesta-se na complementaridade do masculino e do feminino. O homem e a mulher foram criados um para o outro: o mandato de ser fecundos depende desta relação recíproca, que é santificada pela união matrimonial. Na Escritura, o matrimónio de um homem e de uma mulher converte-se na imagem da comunhão de Deus com a humanidade, que encontra a sua perfeição no banquete das Bodas do Cordeiro na consumação dos tempos (Ap 19: 7). Sem dúvida, isto significa que para nós esta união nupcial seja simples e desprovida de sofrimento. Para algumas pessoas parece inclusive uma opção impossível. Na nossa intimidade, a integração interior das características masculinas e femininas pode resultar difícil. A Igreja tem consciência de tal. Ela deseja acolher e consolar todos aqueles que experimental dificuldades neste âmbito.
Como vossos bispos queremos dizer isto claramente: estamos à disposição de todos para acompanhar a todos. A aspiração ao amor e a procura de uma sexualidade integrada tocam aos seres humanos no seu mais íntimo É um aspecto em que somos vulneráveis. O caminho até à plenitude requer paciência mas há alegria em cada passo em frente. A passagem da promiscuidade à fidelidade, por exemplo, é já um salto enorme, independentemente de que essa relação, agora fiel, corresponda inteiramente ou não à ordem objectiva de uma união nupcial abençoada com o sacramento. Toda a busca da plenitude e integridade merece respeito e deve ser apoiada. O crescimento em sabedoria e virtude é orgânico, ocorre de modo gradual. Ao mesmo tempo para que o crescimento dê fruto deve estar ordenado para um fim. A nossa missão e tarefa como bispos é assinalar a orientação do caminho dos mandamentos de Cristo que são fonte de paz e de vida. O caminho é estreito no princípio mas alarga-se à medida que avançamos. Oferecer algo menos exigente seria defraudar-vos. Não recebemos a Ordem Sagrada para pregar pequenos ideais da nossa própria lavra.
A Igreja é fraterna e hospitalária, há lugar para todos. Um texto antigo declara que a Igreja é «a misericórdia de Deus descendo à humanidade» (Gruta dos tesouros, midrash arameu do século IV). Esta misericórdia não exclui ninguém, as fixa um ideal elevado. Este ideal está exposto nos mandamentos, que nos ajudam a crescer mais acima das nossas apertadas noções da nossa identidade. Estamos chamados a convertermo-nos em homens e mulheres novos. Todos possuímos aspectos caóticos da nossa pessoa que precisam de ser ordenados. A comunhão sacramental pressupõe uma vida vivida de modo coerente em conformidade com a aliança selada pelo Sangue de Cristo. Pode acontecer que as circunstâncias de vida de um fiel católico impeçam, por algum tempo, de receber os sacramentos. Ele ou ela não deixam de ser membros da Igreja. A experiência do exílio interior vivida na fé pode conduzir a um sentido de pertença mais profundo. É o que sucede frequentemente nos exílios bíblicos. Cada um de nós tem que recorrer ao seu próprio êxodo, mas não caminhamos sozinhos.
Em tempos de provação o sinal da aliança primeira de Deus envolve-nos. Chama-nos a procurar o sentido da nossa existência, não nos fragmentos da luz refractada do arco- iris, mas na fonte divina de todo o espectro, completo e maravilhoso, que provém de Deus e nos convida a tornarmo-nos semelhantes a Ele. Como discípulos de Cristo, que é a imagem de Deus (Col1,15), não podemos reduzir o sinal do arco-iris a algo menos do que o pacto vivificante entre o Criador e a criatura. É insuficiente do ponto de vista cristão.
Deus ofereceu-nos «preciosas e sublimes promessas, para que, por meio delas (sejamos) participantes da natureza divina» (2 Ped 1,4). A imagem de Deus impressa no nosso ser procura a santificação em Cristo. Qualquer noção do desejo humano que seja inferior a este “referente” é insuficiente do ponto de vista cristão.
Ora bem, na actualidade as ideias do que é o ser humano e o seu carácter sexuado encontram-se em estado de fluidez. O que se dá por certo hoje, amanhã pode ser negado. Quem se apegue demasiado a teorias passageiras corre o risco de sair desiludido amanhã. Pelo contrário, necessitamos raízes profundas. Procuremos, pois, fazer nossos os princípios fundamentais da antropologia cristã em vez de nos acercarmos com amizade e respeito aos que se sentem afastados de eles. Testemunhar do que acreditamos e por que cremos que é verdadeiro é nosso dever perante o Senhor, diante de nós e ante o mundo.
O ensinamento cristão sobre a sexualidade causa perplexidade em muitas pessoas. Oferecemos um conselho amigo a essas pessoas. Em primeiro lugar, recomendamos familiarizar-se com a chamada e a promessa de Cristo: conhecê-lo melhor na Escritura e na oração, pela liturgia e do estudo do ensinamento integral da Igreja, e não em fragmentos encontrados aqui e ali. Participai da vida da Igreja. A amplitude das perguntas iniciais se alargará, assim, dilatando a vossa mente e o vosso coração. Em segundo lugar, tende consciência das limitações de um discurso puramente secular sobre a sexualidade. Este discurso necessita ser enriquecido. Necessitamos de um vocabulário adequado para falar sobre estes temas tão importantes. Teremos uma rica contribuição para levar se recuperamos a natureza sacramental da sexualidade segundo o plano de Deus, a beleza castidade cristã e a alegria da amizade. Esta última permite-nos descobrir que uma intimidade grande e libertadora também pode encontrar-se em relações de carácter não sexual.
No ensinamento da Igreja é habilitar o amor e não impedi-lo. No final do Prólogo do Catecismo da Igreja Católica, de 1992, repete um texto do Catecismo Romano de 1566: “Toda a finalidade da doutrina do ensino deve ser posta no amor que não acaba. Porque se pode expor muito bem o que e preciso acreditar, esperar fazer, mas sobretudo deve ressaltar que o amor de Nosso Senhor sempre prevalece, a fim de que cada um compreenda que todo o acto de virtude perfeitamente cristão não tem outra origem que o amor, nem outro fim que o amor.” (CIC, 25; cf. 1 Cor 13.8). É por este amor que o mundo foi criado e a nossa natureza criada. O exemplo de Cristo, o seu ensinamento, a sua paixão salvadora e a sua morte manifestaram este amor que reina vitorioso na sua gloriosa ressurreição, que celebraremos com alegria durante os cinquenta dias da Páscoa, Que a nossa comunidade católica, tão polifacetada e colorida, possa dar testemunho deste amor na verdade.
D. Czelaw, Bispi de Compenhaga (Dinamarca), Presidente
Card. Andera Arborelius OCD, Bispo de Estocolmo (Suécia)
D. Peter Burcher, Bispo Eméritob de Reikjavique (Islândia)
D. Bernt Eidsvig Can.Reg. Bispo de Oslo (Noruega)
D. Berislav Grgic, Bispo-Prelado de Temso (Noruega)
P. Marco Pasinato, Administrador Diocesano de Helsínquia (Finlândia)
D. David Tencer OFM Cap., Bispo de Reikjavique (Islândia)
D. Erik Varden OCSO, Bispo –Prelado de Trondheim (Noruega).
Perante esta notável exortação, pode-se ficar indiferente?
Por mim, não me posso calar!