sexta-feira, 19 de maio de 2023

Não me imaginava a partilhar isto: ” Dias depois, Marcelo tem razão, outra vez”

Enquanto secretário de Estado da Energia, nunca ouvi sobre João Galamba um comentário negativo. Todos os que com ele interagiam te­ciam maravilhas da sua preparação técnica. Esses atributos podem chegar para ser número dois, mas para ser ministro é preciso mais. É necessário empatia, honestidade, honra, tolerância e humildade. Galamba tem, claramente, um défice crónico em todos estes atributos, desmontados um a um pela enorme coragem que o adjunto Frederico Pinheiro teve em enfrentá-lo. A passagem dele pela CPI é o maior ataque à tirania e pesporrência que este Governo demonstra. Hoje é claro que a única razão para acionar o SIS de forma a recuperar violentamente um computador teve como único objetivo impedir a divulgação das notas das reuniões que Galamba ocultou terem acontecido (neste caso o mesmo que mentir). A informação considerada secreta e que alegadamente punha em causa a segurança nacional afinal não só pode ser acedida por imensos assessores e adjuntos de vários ministérios como foi entregue à CPI e estava acessível através do telemóvel de Frederico Pinheiro, aquele que ninguém teve interesse em recuperar. A explicação mais simples é neste caso a correta. Só o computador continha as notas das reuniões onde Galamba combinou com a CEO da TAP a informação que podia ser divulgada aos deputados. Só o computador interessava, porque só esse punha em causa Galamba.


Quando se chega ao ponto de se pedir a serviços secretos que recuperem informação que apenas é sensível porque desmonta as mentiras e trapalhadas de um ministro, quando esses serviços atuam sem saber o que continha o dito computador, quando ameaçam e coagem apenas para proteger a cabeça de um membro do Governo, então ultrapassaram-se todos os limites imagináveis. Não só está em causa o Estado de direito como me parece óbvio que algo está muito podre dentro do Governo. Marcelo Rebelo de Sousa fez um discurso duríssimo na noite em que António Costa decidiu manter João Galamba, onde destruiu publicamente e em horário nobre a imagem de um ministro. Nem percebo como Galamba, depois das palavras do Presidente, não se demitiu outra vez. Qualquer um com um mínimo de vergonha teria percebido que ser ministro é muito mais do que uma assinatura no livro que reúne as declarações de compromisso de honra de membros do Governo.

Dias depois das palavras de Marcelo, os factos, um a um, vão-lhe dando razão.

João Vieira Pereira, Expresso, 19 de maio de 2023

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